sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

apoio ao design no rio de janeiro

a faperj, em conjunto com a firjan e o sebrae/rj, acaba de lançar edital de 2,7 milhões de reais para apoiar o desenvolvimento de design de produto e embalagens. é uma iniciativa que acredito ser inédita, que vem se somar aos esforços promovidos pelo estado do rio de janeiro para consolidar de uma cultura regional de design criativa e inovadora.

o estado tem uma capacidade instalada única de ensino e pesquisa, aliados a um mercado profissional altamente qualificado. no entanto, necessita ainda de melhor interagir com o interior, que tem um rico potencial a ser explorado com a contribuição do design.

são dez escolas de graduação; dois mestrados e um doutorado; laboratórios de pesquisa em design instalados na esdi e na puc; um extraordinariamente bem aparelhado laboratório da divisão de desenho industrial do int; o centro design rio e o centro carioca de design; e ainda os resultados cada vez melhores apresentados pelo setor profissional.

tudo isso, aliado ao desenvolvimento econômico (e social) do estado, nos permitem ter uma visão otimista neste final de ano.

que continue melhorando mais em 2011!

sábado, 11 de dezembro de 2010

políticas de design - entrevista ao garatuja digital

há poucas semanas, o rodrigo schoenacher me perguntou se eu poderia responder a algumas perguntas para o seu - excelente - blog garatuja digital. "apenas três perguntas" - disse ele - mas que me deram a oportunidade de discorrer um bocado, ainda que superficialmente, sobre o assunto que tenho pesquisado tanto no meu doutorado. com a autorização do rodrigo, reproduzo abaixo o conteúdo dessa entrevista:

1) você tem um blog chamado "políticas de design". poderia explicar um pouco mais o que significa o termo "políticas de design"?

na minha pesquisa me refiro a "políticas de design", ou melhor, "políticas públicas de design" como sendo princípios estabelecidos pelo governo para fazer uso do design como ferramenta estratégica de desenvolvimento social, econômico, industrial e regional. estas políticas são geralmente pública e explicitamente estabelecidas, para que possam ser conhecidas e acompanhadas na sua implementacão.

2) como você vê a atual situação das políticas relacionadas ao design no brasil em comparação a outros países?

o brasil tem uma aproximação recente e ainda esparsa nesta área. não temos, como alguns países, uma "política nacional de design", nem tampouco uma entidade articuladora de políticas públicas nos moldes do design council britânico ou do kidp da coréia do sul. ambos atuam com suporte direto do governo, e desenvolvem projetos, programas e ações de interesse do governo e da sociedade. ambos contam com equipes especializadas e bem montadas, parcerias com universidades, associações profissionais e empresas. o design council foi criado pelo governo do reino unido ainda durante a segunda guerra, em 1944, para promover o desenvolvimento da indústria britânica e impulsionar a economia quando acabasse a guerra. mas iniciativas neste sentido já se manifestavam desde o século dezenove, com as grandes feiras mundiais - especialmente a partir da exposição internacional de londres, em 1851. e organizações profissionais de designers surgiram no reino unido, nos estados unidos e em outros países ainda nas primeiras décadas do século vinte. assim, mesmo com golpes como a recente crise econômica, que fez com que o governo britânico cortasse o aporte direto de recursos para o design council (anunciado agora em outubro), este ainda consegue se articular para manter-se atuante e encontrar recursos para sobreviver.

no brasil, podemos falar de intenções pioneiras desde o final do século dezenove. no entanto foi nos anos cinquenta, nos estados de são paulo e rio de janeiro que foram feitas as primeiras iniciativas de trazer o design como era visto então na europa, através de cursos livres e workshops com designers de renome internacional. e no início dos anos sessenta o governo do recém criado estado da guanabara inaugurava a esdi, trazendo o design para dentro da universidade e pretendendo formar adequadamente os profissionais necessários para alavancar a indústria nacional. podemos falar que hoje temos na escala federal inserções ainda pequenas mas significativas no ministério do desenvolvimento - o programa brasileiro de design, e no ministério da cultura. e ainda alguns estados tem estabelecido mecanismos de colaboração continuada, como é o caso do grupo consultivo de design que assessora o governo do estado do rio de janeiro desde 2007, através da secretaria de desenvolvimento. a colaboração do segmento de design com o governo do rj já havia gerado, desde o início da década, o programa rio faz design, com exposições, premiação e outros pequenos eventos. o estado do paraná tem também oferecido suporte ao design, com o centro de design paraná, o mais ativo do país, e que tem oferecido apoio estratégico ao programa brasileiro de design.

ainda temos muito espaço para crescer, portanto, apesar de algumas importantes iniciativas estarem se sedimentando nos últimos anos. a bienal brasileira de design e a brazil design week são exemplos disso, e a iniciativa do fórum brasil design (reunindo todas as associações profissionais e acadêmicas brasileiras), trazem contribuições fundamentais. A bienal de design gráfico da adg e o salão design movelsul / casa brasil, em bento gonçalves, são iniciativas que já alcançam maturidade e projeção internacional, mostrando para a sociedade a importância do bom design. e temos um mercado editorial crescente, editando bons livros e boas revistas, apoiado na grande quantidade de escolas de design e profissionais atuantes. muitas outras iniciativas contribuem para promover o design no país, embora muitas vezes de forma cíclica e desconexa. mas falta ainda esse elemento articulador, que possa circular entre as iniciativas de origens variadas, formatando, planejando, estabelecendo equilíbrio e fazendo a ligação com as diversas instâncias de governo e da sociedade. e mecanismos de avaliação e controle de qualidade, pois o design desprovido de qualidade pode ser extremamente prejudicial. falo de qualidade no contexto internacional, num patamar que permita e facilite trocas comerciais, profissionais e acadêmicas. desprezar a qualidade pode significar hoje ficar exposto à exploração do mercado local por grandes empresas internacionais de design, por exemplo. e essa qualidade passa inevitavelmente pela formação. nossas escolas precisam se aperfeiçoar bastante para alcançar esse patamar. não adianta ficarmos iludidos que a criatividade brasileira supera tudo - ela é um elemento forte com o qual contamos, mas está longe de ser a solução única.

poderia dizer muito mais sobre o momento atual, que eu vejo como muito positivo, e sobre o futuro que acredito ser promissor, mas como esse é um dos tópicos da minha pesquisa, posso dizer que responderei melhor daqui a dois anos, em 40.000 palavras...

3) o que você acha que os profissionais e estudantes em design podem fazer em relação ao desenvolvimento dessas políticas em nosso país?

em primeiro lugar, se organizar de forma consistente nas associações existentes. se não dermos suporte às associações, não poderemos cobrar que a nossa atividade seja melhor reconhecida. e por falar em reconhecimento, a regulamentação profissional é, no contexto atual, uma necessidade. não dá para se acreditar que, no mar agitado das profissões regulamentadas, iremos sobreviver com um projeto inovador de desregulamentação. chega uma hora em que precisamos, apesar das opiniões diferentes, demonstrar união - senão nunca seremos considerados seriamente. dar suporte às associações significa filiar-se, pagar as taxas regularmente, e contribuir voluntariamente na gestão e nas atividades da sua associação. associações sem associados são cronicamente fracas. e cobrar das escolas uma melhora contínua na qualidade da formação profissional, inclusive a formação continuada, seja esta através de cursos rápidos, especializações, mestrados profissionalizantes. isso deve ser feito em sintonia com as necessidades do mercado regional e buscando apoio de empresas, federações comerciais e industriais, e do governo. se fizermos a nossa parte, poderemos cobrar do governo que faça melhor a parte dele também.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

sobre biônica & design sustentável

no ano passado eu havia prometido postar aqui reproduções dos cartazes e convites de duas exposições que ajudei a organizar em dezembro de 1979 e janeiro de 1980, respectivamente. pois bem, finalmente achei esse material e processei as imagens (ver post de 08.04.2009 aqui). mas achei que devia fazer um post novo sobre isso, afinal o tema é atualíssimo, e é curioso ver o que se falava sobre isso há 30 anos.



a primeira exposição (acima), anunciada pela revista veja em dezembro de 1979, reunia trabalhos dos cursos de desenho industrial da esdi e da escola de belas artes da ufrj. os cartazes e convites já davam o tom: impressos em papel kraft na gráfica da esdi, usando composição tipográfica em tipos móveis e uma ilustração de uma "máquina voadora" que fazia referência a leonardo da vinci, de quem reproduziam a citação: "o pássaro é um instrumento que obedece a uma lei matemática, e o homem possui a capacidade de reproduzir esse instrumento e seus movimentos". a segunda exposição (abaixo) aconteceu na escola de artes visuais do parque lage, e foi a continuação da primeira, agora com a adesão de trabalhos do curso de design da puc-rio. talvez o clima do parque lage (aonde eu estagiava na época) tenha influenciado cartaz e convite, bem mais "radicais" do que os da exposição na esdi. enquanto os primeiros refletiam a racionalidade gráfica esdiana (ainda que interpretada por estudantes de primeiro ano...), os outros, manuscritos e rabiscados e serigrafia e xerox, continham textos de pablo neruda (última estrofe de aqui vivimos - estravagario) e lao-tsé (poema 11 do tao te ching) e uma estética "suja" identificada com a contracultura da época.



infelizmente eu não tenho registro dos projetos apresentados, exceto por umas raras imagens de uma gravação da tve (e do livro esdi: biografia de uma idéia), aonde fui entrevistado sobre dois trabalhos na mostra (fotos abaixo). mas estes dois projetos são bastante representativos da mostra e do que fazíamos e pensávamos naquela época. ambos os projetos foram desenvolvidos na esdi com orientação do professor roberto verschleisser, e dos grupos faziam parte claudio lamas, gil brito e carlos vargas (infelizmente não me lembro se havia mais alguém nos grupos de trabalho)



biônica & biomimética

o primeiro era um estudo de conector metálico baseado na articulação rotular da cabeça do fêmur. biônica pura, seguindo os ensinamentos transmitidos com paixão pelo professor verschleisser, que nos apresentou victor papanek, buckminster fuller, gui bonsiepe e tantos outros autores que fizeram nossa cabeça e ajudam, até hoje, a fundamentar nosso pensamento. aprender com a natureza, observar, estudar e desenvolver conceitos a partir de similares naturais entusiasmou a todos.

há poucos dias li um post do fred gelli no blog da tátil design sobre biomimética - e lá estava todo o entusiasmo que ele (que também foi aluno do verschleisser) mantém sobre o assunto até hoje, inspirando criações premiadas do seu estúdio. vale conferir o trabalho da janine benyus citado pelo fred gelli, e seu livro biomimicry: innovation inspired by nature.



design sustentável: papanek x bonsiepe

o outro projeto, um silo octaédrico em lona plástica, suspenso numa estrutura tubular também octaédrica, que se apresentava como solução para armazenagem temporária de colheitas em áreas parcialmente alagadas.

este tipo de projeto encaixava-se no que gui bonsiepe (autor ávidamente consumido e adorado por nós, então jovens estudantes) definia como tecnologia apropriada, opondo-se ao conceito de tecnologia alternativa, apresentado por victor papanek no seu livro design para o mundo real (nosso livro de cabeceira). bonsiepe acreditava que os países em desenvolvimento deviam utilizar tecnologias que pudessem dominar facilmente, e passando sucessivamente a tecnologias mais sofisticadas. assim ele defendia a adoção incremental de novos conhecimentos, estimulando o desenvolvimento científico e industrial desses países. seu livro teoría y practica del diseño industrial dedica um capítulo a essa discussão: política tecnológica, diseño industrial y modelos de desarollo.

por sua vez, papanek defendia a recuperação de conhecimento local e soluções alternativas às tecnologias correntes, enfatizando a reciclagem e reprocessamento de materiais. a longo prazo, acredito que a visão de papanek manteria ou até mesmo aumentaria a distância entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, tornando estes últimos mais dependentes de tudo que dissesse respeito à novas tecnologias, mantendo um processo estacionário de reprocessamento semi-artesanal do descarte industrial. me lembro que em 1980 todos fomos assistir victor papanek num seminário na puc-rio, e saímos um bocado decepcionados com sua visão que então percebemos paternalista e sua tentativa de afastamento das questões políticas que envolviam a américa do sul naquele período. isso não impede que seu último livro, publicado originalmente em 1995 - the green imperative - tenha se tornado referência para o pensamento do design sustentável.

esta semana eu assistia um programa na bbc 2 (big ideas, com james may) aonde o apresentador, em uma viagem aos estados unidos para visitar experimentos de geração de energia não-fóssil, chega a uma comunidade alternativa estabelecida nos anos setenta. ali, um dos idealizadores explica que a idéia não é rejeitar novas tecnologias, nem o conforto moderno. a sua casa alternativa tem geladeira, microondas, internet e rede wi-fi. a questão é a auto-suficiência energética, tratamento de afluentes, aproveitamento racional e conservação de água, reciclagem, etc. um equilíbrio entre o apropriado e o alternativo, que sobrevive a mais de trinta anos de experimentação.

por último, já que falei do bonsiepe, a bedford press acaba de lançar um livrinho com suas reflexões sobre o potencial de atuação política do design: design and democracy. leitura obrigatória!

terça-feira, 13 de abril de 2010

se design é importante, cadê o design?



o cgee comitê gestor de estudos estratégicos acaba de divulgar (*) na edição de abril de 2010 do seu boletim, o lançamento de estudos feitos para a abdi sobre o segmento de madeira e móveis:

"o estudo liderado pelo cgee foi demandado pela agência brasileira de desenvolvimento industrial (abdi) e resultou na publicação do panorama setorial – madeira e móveis, volume de 202 páginas e estudo prospectivo – madeira e móveis, de 210 páginas." (leia a notícia completa aqui)

a notícia destaca, em vários pontos, a grande importância do design para que se possa atingir os objetivos do setor. só uma coisa incomoda: apesar disso, não há uma única entidade representativa do design brasileiro listada entre os participantes do comitê gestor do estudo, no final do texto...

não culpo o cgee ou a abdi pela falha, nem a excelente equipe que conduziu o estudo. no entanto, a falha precisa ser corrigida futuramente. acredito que isso seja consequência da fragmentação e enfraquecimento da representação da atividade no país, que nós tentamos combater com a criação do fórum brasil design. ou seja, precisamos reforçar ainda mais as nossas ações se quisermos ser ouvidos. até porque, com uma entidade representativa forte, podemos exigir ser ouvidos.

(*) detalhe curioso: aparentemente os estudos divulgados como novidade no boletim do cgee de abril de 2010 foram lançados no início de julho de 2009, portanto nove meses atrás, e estão disponíveis no site da abdi junto com outras publicações interessantes. vale a pena conhecer os estudos, muito bem elaborados e apresentados. (atenção: os arquivos pdf são bem grandes)

estudo prospectivo madeira e móveis (pdf 47mb)

panorama setorial madeira e móveis (pdf 30mb)

(a imagem das cadeiras foi retirada dos estudos acima)

terça-feira, 16 de março de 2010

regulamentação, ou design e o seu zé da venda

esta semana, respondendo a um post que se posicionava contra a regulamentação profissional no blog designbr, fiz uma série de considerações a respeito, complementando o que o professor freddy van camp já falara a respeito (ver links no final deste post)

bem, começando pelas comparações – em geral muito difíceis – entre países, e só para citar alguns exemplos (afinal, sempre se citam exemplos de países aonde a profissão não é regulamentada…): finlândia, estados unidos, reino unido, tem organismos reguladores da profissão estabelecidos ainda no século dezenove. conselhos nacionais e outros tipos de associações profissionais trabalharam junto aos governos e à sociedade por mais de um século nestes países, estabelecendo uma cultura de design da qual estamos, infelizmente, muito distantes. na finlândia, com uma população de pouco mais de cinco milhões de habitantes, apenas quatro associações profissionais reúnem quase cinco mil associados – isso equivaleria a termos no brasil 200 mil associados às diversas associações de classe existentes no país. e no entanto tenho motivos para acreditar que as nossas associações não chegam a somar três mil associados em todo o brasil hoje!

muitos criticam as associações existentes, e nos comentários do tal post chegou-se a falar em “fracasso” na atuação da adg. ora, eu não consigo avaliar assim uma entidade que promove um evento da magnitude da bienal de design gráfico, que tem cumprido o importante e fundamental papel de mostrar à sociedade brasileira o que é design, e o que é design de qualidade! estabelecer tal patamar é fundamental para a evolução do design no país. afinal, se esperamos que a sociedade vá consumir design de qualidade, ela precisa saber o que é design de qualidade, não é mesmo? e pelo que eu saiba, um dos maiores problemas da adg é a inadimplência – e não há associação profissional que resista a esse mal. parece que a atitude de alguns profissionais muitas vezes tem sido: não gosto de fulano ou de beltrano, não fizeram o que eu queria, então vou sair da associação, vou deixar de pagar a anuidade. as pessoas que dirigem essas entidades tem sido, historicamente, voluntários e abnegados, que conseguem fazer sobreviver as instituições com esforços heróicos e sacrifícios pessoais para promover atividades que beneficiam a todos, inclusive aos não-associados.

acho que todos concordam que não há como avançar sem algum tipo de atuação coletiva, não é mesmo? e porque tornar vilões genericamente os conselhos e apontar as associações como soluções? ambos não são formados pelos profissionais da área? será que devemos eliminar o congresso nacional ou a classe política porque nós a percebemos como dominada pela corrupção? e qual seria a opção? a tirania? o que eu tenho visto funcionar melhor em alguns países do que no brasil é a participação – fruto da cidadania, cuja percepção parece que nos falta às vezes. e não estou querendo dizer que neste ou naquele país a situação seja exemplar ou ideal, pois isso não existe, todos tem problemas e diferentes estágios de evolução no uso do design como ferramenta estratégica de desenvolvimento. mas somos nós os responsáveis por fazer as nossas representações profissionais (ou políticas) darem certo. não posso acusar uma associação profissional ou conselho pela falta de atuação, pois eu também sou responsável por ela, e se faltam ações, essa falha não é apenas de seus diretores, mas é compartilhada pelos associados.

temos que compreender que o gigantismo e a complexidade do estado brasileiro estabeleceram outros mecanismos, que passam pela excessiva regulamentação profissional, diferente de outros países. há um excesso na regulamentação de profissões. mas por isso mesmo não podemos prescindir de ter nossa profissão reconhecida e regulamentada, sob pena de termos a atuação restrita pela legislação que privilegia profissionais regulamentados e limitada pelos setores profissionais que nos tangenciam.

outro ponto: qual é a medida da contribuição do design para a economia de um país? fala-se muito disso, mas como se podem estabelecer mecanismos de avaliação efetivos? no brasil, o ministério da fazenda tem dados atualizados anualmente para os setores regulados, e pode assim dimensionar a sua evolução ao longo dos anos, apenas fazendo uso do código fiscal e da receita correspondente. e isso decorre de uma clara definição da atuação profissional através da sua regulamentação. existem outras maneiras para fazê-lo? certamente, mas ser a exceção à regra é muito mais complicado do que jogar pelas mesmas regras que se aplicam a todos os outros.

um argumento utilizado com frequência diz que a regulamentação nivelaria os preços por cima, ou tornaria os preços de um projeto de design inatingíveis para o “seu zé da venda”. acontece que no brasil ele geralmente investe muito em outras áreas para alavancar o seu negócio – seja em maquinário e outros insumos, ou na ampliação da oficina, da fábrica ou da sua “venda”, que logo se torna mercadinho, e daí a pouco supermercado. mas não sabe que o design pode estabelecer um diferencial para a marca da sua “venda”. como será o que o “seu zé da venda” fica sabendo que esse tal de design pode ajudá-lo? pela presença do design na mídia garantida por eventos da qualidade da bienal de design gráfico, pelas informações e pelo apoio do sebrae, pelo cartão do bndes que agora financia design. mas este continua sendo um problema no mundo inteiro: como ensinar a contratar design? porque contratar um mau designer estraga todo o esforço feito para mostrar ao “seu zé da venda” a importância do design para o crescimento da sua venda. no reino unido, essa é uma das preocupações do design council, que tem programas específicos sobre como contratar um designer para desenvolver o seu projeto, geralmente focados nas pequenas empresas. e essa preocupação existe também em todos os outros países aonde se pretende ordenar e valorizar o trabalho de design. eu mesmo já ouvi depoimentos de micro-empresários sobre o quanto o design contribuiu para o crescimento das suas empresas, assim como, quando tinha a minha empresa de design no rio de janeiro, já negociei formas de pagamento adequadas ao tamanho da empresa, ou até mesmo a troca de serviços – o bom e velho escambo – que está na origem do sistema econômico de trocas comerciais, antes mesmo do surgimento da moeda.

enfim, não existe outra saída: precisamos nos organizar, nos associar, reforçar muito as associações existentes – e o fórum brasil design, que reuniu já na sua criação praticamente todas as entidades associativas da área de design no brasil inteiro – e apoiar sim, a regulamentação. ela certamente trará benefícios para todos, e principalmente para o usuário de design, que terá a quem recorrer para se instruir sobre como contratar corretamente um profissional de design que possa atender às suas expectativas.


(aqui está o post no designbr que originou este texto; não deixe de ver também este texto do professor freddy van camp sobre o assunto e esta apresentação preparada para a adegraf pelo professor felipe lopes, da unb)

ps: acrescento o link para o texto do mauro pinheiro, um dos melhores que já li sobre o assunto, e bom demais para estar apenas entre os comentários...