domingo, 2 de janeiro de 2011

a história de dois logos

o primeiro: jogos olímpicos rio 2016



o logo para jogos olímpicos rio 2016 foi lançado durante a festa de dois milhões de pessoas no reveillon da praia de copacabana, no rio de janeiro. com design da tátil (uma das melhores empresas de design brasileiras), é consequência de um processo que começou há vários meses, numa concorrência promovida pelo comitê olímpico brasileiro com assessoria da associação de designers gráficos, adg brasil, da associação brasileira de empresas de design, abedesign, da associação brasileira das agências de propaganda, abap, e do conselho executivo de normas-padrão, cenp. o edital foi elaborado com base nas recomendações do icograda, conselho internacional de associações de design gráfico, e todo o processo foi supervisionado pela adg, com regras claras e justas. 139 agências de design participaram, das quais oito foram selecionadas e contratadas para desenvolver conceitos. o logo vencedor foi escolhido (e posteriormente desenvolvido para o lançamento) por um time de 15 pessoas que incluía representantes das instituições envolvidas e diversos experts. um processo transparente e bem gerenciado.

o resultado: conceitualmente bom, equilibrado, com desenvolvimento cuidadoso do lettering, inquestionavelmente um trabalho de alto profissionalismo, e que sugere um número de boas aplicações - inclusive uma belíssima versão tridimensional apresentada na festa de lançamento.

antes de ler sobre o próximo logo, assista os dois videos inspiradores abaixo - o lançamento oficial do logo e um documentário sobre o processo criativo:







o segundo: copa do mundo de futebol da fifa - brasil 2014



o logo da copa do mundo de futebol da fifa - brasil 2014 foi lançado no final da copa do mundo na áfrica do sul, em julho passado. no entanto, havia vazado para a imprensa há pelo menos dois meses - outro tropeço num processo bem menos transparente do que o da concorrência para a marca dos jogos olímpicos do rio.

inicialmente a mesma adg brasil foi convidada para assessorar o processo da concorrência, mas aparentemente se retirou por discordâncias nunca bem esclarecidas, obscurecidas por um acordo de confidencialidade. a marca final foi desenvolvida pela agência de publicidade que já atendia a fifa no brasil, a agência áfrica. de acordo com a fifa, outras sete empresas participaram da concorrência, mas nunca se soube quais novamente em virtude de acordos de confidencialidade. a escolha final ficou a cargo de uma "comissão de notáveis" composta pelo presidente da confederação brasileira de futebol, pelo secretário geral da fifa, pelo escritor paulo coelho, a cantora ivete sangalo, a top-model gisele bundchen, o arquiteto oscar niemeyer (aos 102 anos) e o designer pop-star "brasileiro" (nascido na alemanha) hans donner. sem dúvida não era um comitê com enfoque técnico.

o logo foi apresentado sob severas críticas, especialmente dos designers brasileiros, que se sentiram mal representados especialmente quando a qualidade do design brasileiro conquista espaços - e muitos prêmios - no mundo inteiro. foram apontados o desenho infantilizado, vários problemas construtivos, um péssimo lettering e até mesmo o uso desproporcional dos símbolos de marca registrada e copyright, todos considerados sinais claros de uma criação não-profissional. e a marca tornou-se conhecida como um rosto escondido pela palma da mão numa atitude envergonhada.

e qual a relação disso com políticas de design?

muito simples: concorrências públicas e licitações de design devem ser conduzidas por associações profissionais de designers, ou com seu contínuo assessoramento. existem regras claras e internacionalmente aceitas para gerenciar esses processos, desenvolvidas após décadas de experiência por instituições como o conselho internacional de associações de design gráfico, icograda, e o conselho internacional de sociedades de design industrial, icsid. ignorar isso expõe ao risco o processo e os resultados.


(versão em inglês deste post: www.designpolicies.com)